Shaabi – por Faridah Mahaila
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Nota do blog:
O Blog é um espaço informativo voltado para a pesquisa. Estudar a fundo a Dança Oriental é um trabalho de arqueologia, de encontrar pecas perdidas para um quebra-cabecas em constante evolução.
O Blog é um espaço informativo voltado para a pesquisa. Estudar a fundo a Dança Oriental é um trabalho de arqueologia, de encontrar pecas perdidas para um quebra-cabecas em constante evolução.
A Farida Mahaila pesquisou e escreveu um bom artigo sobre shaabi (publicado no blog Mafia da Dança do Ventre) portanto, nada mais justo que publicá-lo aqui! Se você também tiver uma pesquisa e queira publicar sinta-se a vontade em escrever e contribuir com novas informações!
Isis Zahara(As informações contidas aqui são fruto de pesquisa pessoal, e de conversa com profissionais, como Khaled Emam, Hayat El Helwa, Lulu Brasil, Beatriz Simbiya Ricco, Mileni Nurhan, Claudia Cenci e Giuliana Scorza.)
Farida Mahaila para Mafia da Danca do Ventre |
Não sou dona da verdade, sou uma eterna
aprendiz, se algo estiver errado, por favor me falem, para poder corrigir e
assim passar a informação correta. Veja bem.. errado, lá no Egito, pros Egípcios;
e não o que você acha que está errado porque não condiz com o que você acha. Certo?!
Aqui no
Brasil, até a pouco tempo, não se falava muito sobre shaabi, mas ele está entre
as bailarinas a muito tempo, e ninguém nem sabia.
Antes de tudo vamos voltar no tempo
Na década de 70, muita coisa aconteceu no Egito:
- Houve a perda de três cantores amados: Farid Al Atrache, Om Kalthoum e Abdel Halim Hafez, marcando o
fim da época de ouro, do amor puro, inatingivel e da sexualidade reprimida.
- Gamal Abdel Nasser, presidente do Egito, morreu. O
governo seguinte abre as portas do Egito para o ocidente, havendo maior turismo
e fazendo com que o dinheiro fluisse.
- M
- Surgimento das fitas cassetes e aparelhos de som.
Suher Zaki e Mohamed Adaweya
Com o dinheiro fluindo, mesmo que pouco, as pessoas da
classe trabalhadora puderam comprar aparelhos de som, e com a produção de fitas
cassete, tanto caseira como pirata, puderam então sustentar uma voz, chamada
“voz do povo”.
O pai do shaabi foi Ahmed Adaweya, que nos anos 70 começou a cantar regularmente
nos clubes em Shariaa al Haram (Pyramids Road). Com raízes baladi, voz rouca, e
memoraveis Mawaweel (plural
de Mawwal(*)), usou a voz para cantar canções de protesto e várias injustiças
sociais. Seu primeiro cassete foi em 71. Sua popularidade cresceu e ele vendeu
milhares de cassetes. Grandes bailarinas dançaram ao seu lado: Zouher Zaki,
Fifi Abdo, etc.
Mohamed Adaweya |
Mas afinal o que é Shaabi?
Não, não é um bicho de sete cabeças, nem coisa “proibida”,
muito menos somente baixaria e palhaçada.
Como uma palavra, Shaabi tem múltiplos
significados em árabe: "Popular
(do povo)" "populares"
A origem literal da palavra Shaabi
(Sha'bi) em árabe egípcio é "das pessoas comuns". Aqui vamos nos
referir a ela como a música criada por pessoas da classe trabalhadora,
principalmente da geração mais jovem.
Como uma forma musical, Shaabi é a voz
da rua, do povo; uma expressão urbana
cheia de sentimento, duplos sentidos,
comentário social, politica, etc.
O
estilo de voz para o Shaabi também é de fundamental importância, sendo sempre
uma voz mais rude, sem muito refinamento.
As músicas tem combinações de instrumentos tradicionais e
modernos.
Festa Shaabi - Cairo Egito |
Geralmente começa com Mawwal (nem todas) que pode
falar de amor, questões sociais, etc. O Mawwal não tem ritmo, mas pode ser
acompanhado ou “respondido” por nai tradicional, acordeon moderno ou saxofone.
Após
o Mawwal e antes da canção, a melodia é geralmente um ritmo rápido (ex. Maqsoum)
As
músicas são curtas, com linguagem popular e gírias. As letras são bem simples.
Músicas baladis cantadas também são consideradas shaabi
(confirmei esta informação com a mestra Hayat el Helwa e com o egipcio Khaled
Emam).
Mohamed Adaweya e Soher Zaki |
Como uma dança,
Shaabi reflete uma
expressão verdadeira e autêntica do
povo egípcio e seu humor, charme
e brincadeira; os
movimentos são mais “terra”, sem influencia de giros, nem grandes
deslocamentos, passos principalmente com pé no chão, não é uma dança com
postura elegante, como por exemplo de Nagwa Fouad, os movimentos são simples,
os básicos tradicionais, mas a dança é muito cheia de sentimento e emoção.
Expressão é característica fundamental, e pode ter alguns gestos relativos a
letra da música, principalmente nos shaabis modernos.
A
maioria das dançarinas profissionais do Cairo usam este estilo em seus shows,
sendo Fifi Abdo sua maior expressão, com sua dança solta e leve, porém
"grudada" na terra, sem praticamente nenhuma influência do ballet ou
outras danças.
Fifi Abdo |
Já a algum tempo, alguns bailarinos e coreógrafos egípcios,
como Mohamed Shahin e Mohamed Kazafy, dão workshops, onde ensinam coreografias
de shaabi, de uma maneira mais estilizada, com poucos giros e poucos
deslocamentos ambos bem simples, mas nada que fuga da raiz, e é um pouco mais
refinado.
Mohamed Shahin |
Em sua essência, o shaabi, não é coreografado, é o tipo
de dança que quando toca a música o povo levanta e começa a dançar.
Como em toda dança e em todo lugar, temos que ter cuidado
com o que vemos na internet.
Tem muitos videos de mulheres dançando shaabi,
escandalosamente, com mini saia, as vezes salto bem alto, e com perna aberta,
apelativo mesmo, mas temos que lembrar que essas seriam as consideradas “prostitutas”
(não sei se posso usar essa palavra, mas acho que talvez pra eles seja),
que são contratadas para dançar daquela maneira mesmo, geralmente nos
casamentos shaabi. E não é só shaabi que essas moças dançam.
Não é porque é shaabi que é baixaria, cuidado!!!
Não é legal e nem ético de nossa parte, representar uma
cultura e um povo, se baseando nesses videos apelativos.
Tem muitos outros videos onde se tem a dança “normal”. Estude
esses videos, se baseie neles; alguns são engraçados, porque são pedaços de
filme, e esses filmes são de comédia, outros são as mulheres dançando, mas nada
super pelativo nem vulgar.
Mohamed Kazafy |
Shaabi é sim uma dança pra se dançar em qualquer lugar: restaurante, palco, festas, etc; só
tem que se ter o cuidado com a letra, porque alguns shaabis não são pra dançar
ou então a letra é meio “pesada”, e sempre lembrar que é dança de raiz, nada de
passos que fugam do mais tradicional.
O que já fica difícil aqui no Brasil, pois a dança aqui foi
sendo muito lapidada ao longo dos anos, tem muita influência de ballet e outras
danças, ficando então realmente dificil conseguir representar o verdadeiro
shaabi, porque não só a música, a roupa e passos né gente; é toda a ginga, a
pegada e o sentimento.
Não é só sair fazendo um teatro, coisas engraçadas, ou
pior, meio piriguete.
Como a Farida Fahmy disse em uma entrevista (não é sobre
shaabi), não descaracterize o povo e a cultura em sua essencia, inventando
coisas pra dançar..
Não é entrar no palco, mascar chiclete, dançar igual “piriguete”,
com perna aberta, etc.
Cuidado gente... não represente o lado ruim, represente o
lado bom!
Vou fazer uma analogia pra ver se entendem melhor. Veja
bem, ANALOGIA! Uma coisa não é a outra, nem se compara. Nada se compara! Lembre-se
sempre disso.
Vamos pensar na Bahia. Lá temos o axé. Músicas simples,
alegres, com letras bem simples; tem as mulheres que dançam por divertimento,
as que dançam como profissão pois são bailarinas, e as que dançam mais
apelativo (ai tem tudo um problema social, que não citarei, mas que sabemos a
triste realidade), quando dançamos axé iremos dançar legal, se divertindo, sensual
talvez, mas nada demais, bem pelo menos eu não rsrs. É isso! Não iremos dançar
shaabi se baseando nas mulheres que dançam apelativamente.
Agora uma outra analogia ainda na Bahia. Pegue esse povo
mais pobre da Bahia, mesmo com tanta dificuldade, eles ainda fazem música, e
tem alegria de viver, e transbordam muito essa alegria. Entende o sentimento?
Imagina então no Egito que além de tudo, o povo sempre
teve muita repressão de tudo, e mesmo assim, tem essa alegria de viver, essa
vontade de tentar melhorar a realidade, a dança e a música, seriam como uma
“libertação”, é divertido e as vezes engraçado sim, mas não é só palhaçada. Pode
ser palhaçada, mas isso não é ridículo, porque pra eles tem significado real! Talvez
quem nunca teve dificuldade na vida não entenda, ou quem nunca teve problemas
sérios qualquer que seja, financeiro, emocional, etc, também não entenda essa
alegria toda deles e o porque da dança tão solta, simples, alegre e cheia de
emoção, numa música que seria considerada “pobre”, simples, e com letras
“bobinhas”. Ai aqui no Brasil rotulam como somente palhaçada, algo meio vulgar,
ou fútil; mas não é! É toda uma cultura, um povo sofrido, e que tem forças pra
viver feliz. Pra eles tem significado! E isso tem que ser respeitado!
Não é so a classe pobre que gosta e dança shaabi. São
todos! Até em casamento rico, tem o momento da música e dança shaabi. Cuidado
ao se classificar as coisas!
Shaabi atualmente é a onda no Egito, está na moda.
Toca nas ruas, nos onibus, em casa noturnas, em
casamentos, shows, etc.
“Originalmente
no shaabi se usava galabeya. Hoje em dia, com as regras de palco e show
mudadas, pode-se também dançar shaabi usando duas peças como figurino.”
(Diana
Tarkhan - Cairo).
Tem quem use também calça jeans. As vezes algumas usam um
sapato com salto, mas nada salto super alto e fino e bico finérrimo, lembre-se
de averiguar o que pode ter lá ou não. Tem dúvida, não use, não imagine.. aaa
eu acho que. Nãooo! Não faça, não use!
Bem
eu particularmente uso a galabeya, acho legar quando vamos representar uma
cultura e um dança tão “deles”, manter a uma vestimeta mais tradicional.
Cantores populares: Hakim,
Shaban Abdul Raheem, Sami Ali, Sahar Hamdy, Saad El Soghayar, Khaled Agag,
Hassan El Asmar, Magdy Talaat and Magdy Shabin, Ameina, Marwa, Baarour.
Hakim |
Ainda
hoje em dia há muita repressão no Egito, e muitas vezes músicas shaabi são
censuradas nos meios de comunicação. Mas com a pirataria, internet e celular,
as musicas são passadas ao publico.
Saad El Soghayar cantnado com a bailarina Aleya (de vermelho)
Há tambem, uma enorme quantidade de músicos Shaabi, que são conhecidos como DJ Sufi e DJ Mulid. Eles saíram das Mulidas (festas religiosas), e remixaram músicas para a juventude dançar.
Aqui Dina e Saad na cena de um filme, música El Enab (as
uvas)
Espero poder ter ajudado um pouco a entenderem melhor.
Lembre-se
sempre: não é só uma dança e uma música. É uma cultura e uma história por trás.
Respeitem isso! Não vamos deturpar ainda mais as coisas, né?!
(*)
Mawwal é uma improvisação do cantor
Este tipo de shaabi é muito divertido. Às vezes, um cantor tem um grupo de rapazes dançando.
Outros artigos sobre Shaabi:
Bailarina Suheil
Diferença de Shaabi e Al Jeel no estilo Egípcio moderno
Shaabi resumo das dancas populares e folcloricas do Egito
Shaabi - Artigo em inglês
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