Ballet Clássico na Dança do Ventre - ter ou não ter eis a questão! parte01
Após uma acalorada discussão entre tantas bailarinas no facebook de Lulu Sabongi, resolvi escrever este post, pois percebi que em grande parte o Brasil carece de informações, digamos assim...de base mesmo, no estudo da dança.
Acho importante o esclarecimento de algumas etapas da história e do que é a Dança do Ventre, pois a qualquer arte ou ciência é fundamental o estudo das origens e das teorias anteriores para se criar uma teoria nova ou levantar qualquer bandeira!
Primeiramente quero destacar que o artigo não faz apologia ao Ballet Clássico e nem desqualifica a utilização do mesmo, mas ressalta pontos históricos e determinadas definições que mostram a interligação entre Ocidente e Oriente desde de muito antes da definição Raks al Sharq surgir no Egito no início do século XX.
As Origens do Ballet
Primeiro, o Ballet ou Balleto surgiu na Itália em meados do século XV, quando a Europa mantinha um contato intenso com o Oriente, principalmente com os mercadores árabes.
Como todos deveriam saber o Renascimento, período em as artes e a cultura retornaram a fluir pelos países europeus devia-se ao intercâmbio com as culturas do Oriente.
Nesta época o Balleto continha posturas mais alongadas de braços, cabeça e pequenos deslocamentos no espaço. A dança clássica ou o Ballet de Corte propunha a elegância das danças de corte da Pérsia (Atual Iran).
Uma das principais posições de apoio na técnica do Ballet, o Arabesque tem origem árabe assim como o próprio termo que o define.
A Origem da Raks al Sharq egípcia
Como pouca gente sabe a Raks Feminina ou Dança do Ventre, na forma como conhecemos atualmente foi desenvolvida a partir da compilação de vários passos e de diversas danças do Egito.
Ao fundar o Cassino Opera, Badia Massabni solicitou a criação de um estilo musical apropriado para a dança que ela vinham desenvolvendo. Para isso ela juntou musicos eruditos com músicos populares, instrumentos de orquestra ocidental com instrumentos de percussão como o derback.
Também na dança ela selecionou passos comuns e contratou bailarinas e coreógrafas russas para ensinar as futuras estrelas.
Essa dança feminina que surgia no século XX, a partir de Badia Massabni ganhou o nome de Raks el Sharq e foi estruturada dentro da técnica do Ballet Clássico. A Raks al Sharq veio ao mundo Ocidental e ganhou o nome de, Belly Dance, Oriental Dance, Danse du Ventre, Buikdans, Bauch Thanz ou Dança do Ventre.
Essa dança feminina que surgia no século XX, a partir de Badia Massabni ganhou o nome de Raks el Sharq e foi estruturada dentro da técnica do Ballet Clássico. A Raks al Sharq veio ao mundo Ocidental e ganhou o nome de, Belly Dance, Oriental Dance, Danse du Ventre, Buikdans, Bauch Thanz ou Dança do Ventre.
Anos mais tarde, por volta da década de 60 o coreógrafo egípcio Mahmoud Reda desenvolveu um trabalho de criação em cima das manifestações populares do Egito, as Shaábi. Toda a base de estudo técnico de Mahmoud Reda estava no Ballet Clássico, assim as danças baladi surgiram dentro do contexto do Ballet Clássico.
A partir de Mahmoud Reda o Egito esteve mais aberto para as danças de raíz ou Baladi.
O que podemos chamar de estilo moderno ou Shaábi moderno são versões contemporâneas das danças populares e todos os grandes coreógrafos que seguem essa linha têm formação na Troupe de Reda, ou seja, iniciação na estrutura do clássico.
O que podemos chamar de estilo moderno ou Shaábi moderno são versões contemporâneas das danças populares e todos os grandes coreógrafos que seguem essa linha têm formação na Troupe de Reda, ou seja, iniciação na estrutura do clássico.
A Dança do Ventre Egípcia se caracteriza e diferencia-se das demais (Romany, Libanesa etc..) pela sua extrema elegância, pelas posturas de braços e pela meia ponta alta e mesmo o estilo moderno ou popular Shaábi têm sua elegância em destaque perante outros estilos como o turco e o libanês.
Portanto, se você decidiu dançar o estilo egípcio é imprescindível o estudo de base do Ballet Clássico, pois foi nele que a Dança do Ventre (como a conhecemos atualmente) surgiu.
Existem outras danças no Egito em que a técnica da Dança do Ventre integra em seu repertório, como as danças ghawazee, nuba...mas a partir do momento que a técnica é codificada e inserida no contexto de um espetáculo ela sofre uma alteração de caráter.
O caráter do espetáculo exige linhas claras e objetivas, também precisão em cada movimento.
A própria Randa Kamel diz isso, num comentário sobre um passo, ela diz assim - esse movimento é do folclore, mas a partir do momento em que eu introduzo na dança oriental ele ganha braços, eu acrescento meia ponta alta... -
O caráter do espetáculo exige linhas claras e objetivas, também precisão em cada movimento.
A própria Randa Kamel diz isso, num comentário sobre um passo, ela diz assim - esse movimento é do folclore, mas a partir do momento em que eu introduzo na dança oriental ele ganha braços, eu acrescento meia ponta alta... -
Dança do Ventre Turca
Na Turquia o Ballet Clássico não teve tanta influência como no Egito, embora as dinastias dos haréms simplesmente adoravam um espetáculo de Dança Clássica européia.
Mas a base do que denominamos Dança do Ventre Turca vem da cultura Romany e é carregada de pulinhos, cambrets e movimentos no chão.
A Dança do Ventre Turca foi o primeiro estilo a chegar ao Ocidente e pode ser considerada a mãe do Estilo Cabaret Americano. Neste caso as bailarinas americanas começaram a estudar as posições de yoga como auxílio à musculatura das costas e para a própria coluna em si. O yoga foi integrado à Dança do Ventre por volta dos anos 70.
Dança do Ventre Libanesa
O estilo libanês, embora atualmente inlfuenciado pelo egípcio por ser o mais famoso dos estilos, também tem uma origem distanciada do Ballet Clássico e uma ligação maior com as manifestações familiares.
Uma preocupação maior em compartilhar a Dança entre os entes queridos do que em uma forma estética. (Isso no passado, pois hoje em dia o estilo egípcio é o dominante em todos os países.)
A dança era passada de mãe para filha e compartilhada nos casamentos, aniversários e tem uma ligação forte com o folclore libanês.
Atualmente a Dança do Ventre é uma técnica que transcende as fronteiras culturais do mundo árabe, tem suas diversas linhagens no Ocidente e se propõe cada vez mais como uma técnica a favor do bem estar físico, da saúde e da beleza estética seja ela qual for independente de um padrão.
Nesta era em que vivemos temos a oportunidade de estudar a técnica desta arte dentro do ponto de vista de uma ciência, com ferramentas indispensáveis ao corpo.
O Ballet Clássico como ferramenta fisioterapêutica
O primeiro processo fundamental em uma terapia corporal é o conhecimento do próprio corpo, das limitações, das cadeias musculares etc...
A técnica do ballet é uma terapia que auxilia todo corpo a adquirir condições físicas adequadas para as correções de problemas de respiração, hérnia, constipação, doenças cardiovasculares etc... e como consequencia também auxilia na emolduração do corpo e das linhas que este mesmo corpo reproduz no espaço enquanto dança.
conhecer-se a si mesmo através do movimento |
São derivados da técnica do Ballet as seguintes linhas terapêuticas:
Alexander - ênfase na respiração e no eixo do movimento.
Feldenkrais - ênfase na sensação do movimento.
Pilates - Trabalho de desenvolvimento da força dos músculos e articulações.
Para Rudolf Laban - um dos maiores teóricos de Dança do século XX - a Dança integra terapias corporais a uma filosofia de vida, mas, não se forma bailarino sem esforço algum, a tentativa de encontrar uma forma mais cômoda para a dor não nos traz a saúde.
O corpo enquanto ferramente de trabalho é movido pelo esforço, pelo desafio de tornar-se.
Isso não significa colocar sapatilha de ponta ou levar a técnica estereotipada do Ballet Clássico ao pé da letra, mas renegá-lo como uma agressão ao corpo é um caminho sem fundamento, é desperdiçar uma ferramenta útil e necessária á saúde.
Isis Zahara
)O(
Muito bom o post.
ResponderExcluirEu como iniciante e leiga na história da Dança... Observo essas discussões de maneira totalmente neutra, até pq cabe opinar quem tem conhecimento.
Eu nunca havia feito nenhum tipo de dança, Mas depois que comecei a fazer a dança do ventre senti vontade de fazer balé também...
Acredito eu, que isso auxiliará na minha flexibilidade, equilíbrio, postura...(Não sei, é o que eu acho!) já que isso nunca foi trabalhado em mim e sinto falta.
Como iniciante, eu só quero dançar, aprender com quem sabe e apreciar a Dança.
Daqui a 20 anos eu opino... =D
Adoro vir aqui e beber do conhecimento compartilhado... Bjuss
Tbm adoro ler esses topico e muito importante.....Como no outro topido foi dito tem muita gente que passa conhecimento sem saber....Bjs
ResponderExcluirOlá Linda.
ResponderExcluirAdorei seu post, e tenho que dizer que o bellet é fundamental na dança do ventre. Sou formada em ballet clássico e dança do ventre e sem duvida o ballet ajuda na execução nos movimentos de braço, giros,ajuda na postura e etc.
Parabéns pelo blog =)
Beijos
Muito interessante, adorei!!!
ResponderExcluirFaço Licenciatura em Dança e preciso apresentar um trabalho sobre a influência do Ballet na Dança do Ventre, então gostaria de saber se você poderia me indicar bibliografias sobre os assuntos que você escreveu.