Zar, relação ritual entre mulheres e jins

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    "O culto do zar no norte da Africa, Sudão, Egito, Arabia e Iran, é um ritual de possessão originário da Etiópia em meados do século XVIII. Introduzido no Oriente Meedio através de escravos etíopes. Em todos os lugares em que este ritual se encontra, mas especialmente no Oriente Médio, é uma atividade extritamente feminina (a possessão). Desconsiderado pelo Islã ortodoxo, o zar é criticado e ridicularizado pelos intelectuais árabes." 

 
 
 

Richard Natvig - VOLXXXV, fasc1

    No contexto dos que acreditam na existência do ritual, o zar corresponde a um número de espíritos, chamados de "Senhores", "Mestres", "Abençoados", "Anjos", que quando irritados ou desafiados tornam-se agressivos e capazes de interagir na vida dos humanos.

    A vítima atacada pelo espírito do zar pode sofrer de doenças ou ser a causa de alguma calamidade na família, no vilarejo ou mesmo nas plantações. 

    Cabe então destinar o doente à casa de alguém responsável por conversar e apaziguar a ira do espírito. Geralmente o líder deste ritual é uma mulher em transe que em uma dança hipnótica fará a reconciliação do zar com a vítima.

"Todo homem, toda mulher tem um espírito. Toda pessoa neste mundo tem um espírito. De vez enquando este espírito se revolta e provoca dificuldades na vida de seu correspodente humano. As pessoas vão aos médicos, mas têm que pedir assistência ao grupo do zar."

Nassar Abdullah lider do Awlad Aboul al-Gheit  
(entrevistado por Yasmin Mourat no Cairo em 2005)

    Cada espírito possui cores, vestimentas, amuletos próprios assim como necessitam do sacrifício de um animal em troca da saúde do enfermo.  Vemos aqui que é um ritual de negociação entre humanos e espíritos e que se faz através da dança.




    Muitas vezes a mulher incorpora um outro espírito do zar para conversar com o que está revoltado, agitado. A negociação passa a ser entre entidades.

   Como ritual de transe, cobre-se em geral a cabeça da mulher com um tecido branco e uma lider cuida dela utilizando um animal expiatório a ser sacrificado.

amuleto para zar - mepop.blogspot.com
    Segundo Amira El-Noshokaty o ritual do zar difere de região para região, assim ela descreve em seu artigo "Types of Zar" a partir da pesquisa de Adel Elelimi's. 

   Para Amira o ritual do zar tem importância na vida das mulheres de baixa classe, pois suas vidas são destinadas ao serviço da casa, da prole e em geral submissas aos maridos, que nem sempre respodem com carinho. 

    A dança do zar lhes confere uma liberdade momentânea na qual ela inverte sua condição social de serva para líder.





     Nem sempre há um doente que necessite justificar a cerimonia do zar, os encontros podem acontecer rotineiramente em datas comemorativas, ou quando se acha necessário agradar os espíritos. Se você quiser assistir uma sessão, que seja demonstrativa mas altêntica, poderá ir ao Makan, Centro Cultural de Arte Egípcia e assistir o grupo Mazaher.

Elementos do zar:

arousa: é chamada de noiva e veste uma camisola branca.

zeffa: marcha de casamento utilizada também no ritual.

ayub: outro ritmo que também pode ser tocada durante a cerimônia.

korsy: uma cadeira ou uma mesa com oferendas.

Assiad: o mais importante dos Jins.

kodia ou Sheikha: líder do ritual.


Instrumentos Musicais:

tambura, tunbur - espécie de lira em forma de triangulo com seis cordas.

daff - pandeiro

sagat - os snujs

mangour - cintos de couro com unhas de bode penduradas.

rango - uma espécide de xilofone desenvolvido no Sudão


Said Zar - Cerimônia no Alto Egito

    A cerimonia começa com a mulher possuída pelo espírito do zar, ela é chamada de arousa e veste uma camisola branca cambaleando ao som da marcha zeffa em torno do korsy (mesa de oferendas). 

   Queima-se o incenso sobre ela enquanto são recitados 3 vezes alguns versos do Corão que fazem menção aos jins. A primeira vez é para a arousa, a segunda para o jin Assiad e o terceiro para os convidados presente.

   A arousa já em transe cai no chão enquanto a kodia, segurando um pombo, toca-a com a ave nos ombros e na cabeça. Ela então se levanta e dança novamente enquanto o pombo é sacrificado e oferecido à Assiad.


Zar no Sudão

    A cerimônia compreende homens e mulheres e o condutor do ritual é a tamboura um instrumento africano. 
    O ritual é semelhante, mas a arousa veste azul claro e a marcha zeffa precisa ser tocada por dois homens negros vestindo cinturões de couro e cascos de bode pendurados.
   A arousa segue os músicos depositando a cabeça e os ombros sobre os tamboures. A partir daí o desfecho é semelhante ao said zar.


Awlad Aboul al-Gheit

    Awlad Aboul al-Gheit é o mais conhecido grupo de zar do Egito
   A Cerimônia é realizada apenas por homens que começam a tocar a zeffa, enquanto uma procissão segue a arousa cambaleante. Todos vestem branco, os cabelos soltos e é possível identificar a presença de snujs. 
    Cantam poemas em honor ao profeta e à ordem a que pertencem (awliaa).


      Entre tantas histórias e pesquisas o zar muitas vezes foi colocado como um exorcismo, pois se assemelha com rituais de expulsão ou negociação de um espírito maligno, mas neste caso, os espíritos fazem parte da vida das pessoas.

    São como parentes que quando enfurecidos devem ser mimados e apaziguados, a relação  é diferente em relação ao exorcismo onde o espírito deve ser banido.


       A dança do ventre integrou o ritual ao espetáculo a partir de Nadia Gamal em 1968, Aiza Sharif em 1980. Também algumas composições populares tratam do cerimonial, como a canção de Ahmed Adawia em Saalamat  On Hassan.

 
   
artigos e livros para se aprofundar no ritual do zar:









Músicas para Zar

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