Minhas Memórias do Egito - um noite no deserto

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A lua cheia de ontem me fez recordar a última viagem ao Egito, em janeiro deste ano, onde pude desfrutar de uma lua também cheia em meio ao deserto do Sahara.
O ônibus abandonou a estrada e cruzou diretamente pelas areias, tocava Amr Diab no radio e como era noite, fazia frio.
Não havia nada do lado de fora a não ser pequenas ondas de massa fofa arenosa e a lua, destacada no céu mais negro que já vi em todas as noites de minha vida. Tão logo passaram-se os quarenta minutos de viagem e o motorista parou para vermos o céu.
Estava em grupo de turistas russos, sendo somente eu brasileira e meu namorado holandês. Caminhamos um pouco ao redor e contei três estrelas cadentes, lembrei dos Reis Magos, história contada pelos meus avós sobre a estrela de Belém. O guia, por saber de meus estudos sobre a cultura árabe contou-me histórias de como os beduínos guiam entre as constelações e acreditam apenas no que está escrito no céu e nada do parecer ser entre as areias.
Mais uma hora e chegamos ao acampamento, entre camelos, burricos e cabras uma mesa baixa com mezze pronto nos aguardava.
Almofadões sobre tapetes listrados, vestígios de areia em todos os cantos, senti-os na boca também, ao terminar de mastigar um falafel.
Abaixo daquele luar majestoso deram início aos tambores, um ayubi bem tocado, o DUM carregado e grave, um jovem rapaz deu início à Tannura, era um derviche.
Sua saia reproduzia um caleidoscópio colorido durante os intermináveis giros, na cabeça o turbante branco e vermelho representando a união dos elementos masculino e do feminino.
Assistir a um derviche em pleno deserto em noite de luar foi, deveras muito especial, na poesia mística de Rumi, talvez o  mais conhecido de todos os derviches, quem dança representa os grãos de areia girando em torno da luz.
Havia uma espécie de mágica, a atmosfera prateada, as rodadas de chá vermelho, o cheiro da chicha e o brilho das brasas. Senti por alguns segundos que fazia parte daquela ambiente onde sagrado e profano se misturavam de forma adocicada e apertei as sandálias contra o chão, um gesto simbólico de abraçar aquela terra longínqua e ao mesmo tempo tão íntima.

Bismilah
)O(

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