Afinal, Que estilo de Dança do Ventre se dança no Brasil?

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Dream of Jeannie - influência americana

            O Brasil tem um estilo próprio de interpretar a Dança do Ventre, assim como a Rússia e o Japão conquistaram o seus postos, mas o que significa isso exatamente?

     Para começar precisamos entender que estilos de Dança do Ventre influenciaram a primeira geração de bailarinas, um pouco de história é sempre importante. Antes de jogar aquela "Dançamos o estilo egípcio com um jeitinho brasileiro" começaremos com um pouco de contextualização porque a questão é mais profunda.



        Primeiro, houve no passado um número significativo de imigrantes vindos de nações dominadas pelo Império Otomano, eram famílias libanesas, sírias, armênias e gregas.



Como referencial as bailarinas brasileiras estudavam as americanas e nos Estados Unidos, que despontava como grande divulgador da Dança do Ventre na América, o estilo estudado (denominado atualmente por American Cabaret ou Cabaret Clássico )  era também uma mistura de Danca do Ventre Turca, Grega, Síria, Libanesa - um mix dos Balcãs, pois, da mesma forma que no Brasil,  imigrantes destes países por lá se estabeleceram. 

Sharazad - pioneira no Brasil
       As primeiras bailarinas que surgiram, Shahrazad, Samira, Rita, Selma Mileidy e Zeina eram de origem libanesa, armênia e suas danças traziam características de seus países de origem, assim como os restaurantes eram sírio-libaneses e em consequência as músicas também. 

       A própria Shahrazad, mestra de tantas bailarinas conhecidas atualmente (Lulu Sabongi, Suheil, Hayat) começou de forma autodidata.

       Sharazad estudou e desenvolveu um processo didático que foi o mais estudado no Brasil durante os anos 80 e 90. Nesta mesma época sabia-se muito pouco a respeito do Oriente e o acesso às informações era mais complicado do que é hoje em dia; as aulas baseavam-se na plena confiança à mestra.




      Mesmo que as músicas egípcias tocassem como trilha sonora dançava-se com shimmies libaneses, floor work turco, snujs à grega e assim por diante, como é possível assistir no DVD American Belly Dance Legends.





Como referencial as bailarinas brasileiras estudavam as americanas e nos Estados Unidos, que despontava como grande divulgador da Dança do Ventre na América, o estilo estudado (denominado atualmente por American Cabaret ou Cabaret Clássico )  era também uma mistura de Danca do Ventre Turca, Grega, Síria, Libanesa - um mix dos Balcãs, pois, da mesma forma que no Brasil,  imigrantes destes países por lá se estabeleceram. 


      Não se deve classificar essa fusão de forma depreciativa, pois havia uma autêntica busca pela técnica de uma Dança do Ventre Genuína, não é por menos que esse momento estruturou um estilo: o American Belly Dance e que atualmente é respeitado mundialmente e influenciou toda a América Latina, principalmente o Brasil durante os anos 70 e 80.

   Eu mesma, posso dizer que tive toda a minha primeira formação no American Belly Dance, pois  desde as primeiras aulas e a bailarina a qual me inspirei por muitos anos foi Suhaila Salimpour. No Brasil, a bailarina Nájua, agora radicada do México, era uma das professoras mais conhecidas juntamente com Lulu Sabongi e Fátima Fontes.

      A mudança deu início quando Omar Naboulsi, Lulu Sabongi iniciaram uma série de workshops (que acontece até hoje também em outras escolas e eventos, como a Luxor, o Mercado Persa) em que bailarinas nativas vieram ao Brasil e as brasileiras se voltaram para o Oriente.


    Aos poucos foi-se percebendo diferenças de estilo, de acordo com a nacionalidade, posteriormente, Mahmoud RedaHaqia Hassan bateram definitivamente o martelo da Dança do Ventre Egípcia no Brasil.
Nájua - autodidata



     Mesmo assim ainda tem muita confusão ao redor do que realmente se dança por aqui. 

     Se por um lado, a motivação em aprender conduz as brasileiras a estudarem todos os estilos e influências e misturas possíveis tornando-as ousadas, criativas e originais, por outro cai-se no abismo de não saber ou ter idéia do que se está dançando e ser indiferente a essa questão, o que é pior!

      Ou mesmo, a própria auto estima da cultura em relação aos requebrados fazem muitas vezes dos sutis shimmies, pops e locks um verdadeiro rebolation. Por isso, não caia naquela, de que por ser brasileira dá para assistir uns videozinhos e sair dançando.

       Mesmo porque, observando americanas, européias e mesmo as bailarinas árabes, a brasileira projeta mais o quadril, os movimentos são mais amplos e se não forem bem estudados, é mais fácil de identificar os erros. 

     Há claro um jingado que favorece quando o assunto é a mistura inter-cultural de shimmies, mas, abertura para as fusões é tão grande que  muitas vezes atrapalha. Leve em consideração que a frase: Menos é muito! É melhor fazer pouco e direito do que executar uma enciclopédia de shimmies mal feitos!

       A alguns anos atrás eu me apresentei no Restaurante Cartago, em Cascais Portugal, juntamente com bailarinas de outras nacionalidades e a preferência pelos meus solos se dava pelo fato de serem danças ao estilo cabaret egípcio, enquanto que as demais executavam estilos pop turco e pop libanês

     Fui graciosamente elogiada pelo mestre de cerimônias, como: "nossa Samia Gamal brasileira", isso ressoou como uma lição que repasso a todas: o estudo dedicado honrará o seu nome
          
       Em outro momento, estive em férias em Sharm El Sheik e a bailarina que estava se apresentando no hotel era brasileira. Extremamente delicada e fluente, ela dançou ao estilo libanês. Foi perfeita! Senti-me orgulhosa da produção nacional, em contraposição assisti uma em Londres que é melhor não dizer mais nada. 

Samia Gamal - Cabaret Egípcio
      Eu particularmente, não sou purista, embora valorize o estudo aprofundado e o respeito ao contexto de cada cultura, acredito que a criação artística deve estar livre e as grandes lendas da Dança do Ventre sempre estiveram abertas para isso. Não deve haver um sistema militar classificando o que é certo ou errado.
    Mas, é mais do que importante, necessário, obrigatório saber o que se dança, por exemplo, se for interpretar um Inta Omri de Oum Kulthun é mais respeitoso e adequado seguir o estilo egípcio clássico ou cabaret egípcio

Jillina 
    Obviamente que o seu estilo próprio estará embutido na sua forma de interpretar o cabaret egípcio, afinal se sua formação veio de qualquer uma das bailarinas brasileiras, elas todas começaram com Shahrazad, Samira e tiveram suas bases no American Belly Dance Style

     O Brasil tem um tempero miscigenado, onde reinam as raízes sírio-libanesas, um pouquinho do samba, um gosto pela música pop egípcia e uma paixão pela Haqia Hassan

      Com o boom das Belly Dance Superstars e as diversas vindas de Jillina ao Brasil, o American Belly Dance Style ressurgiu salpicado com o estilo egípcio moderno

      Não é por menos que haja tantas dúvidas...
  


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3 comentários:

  1. A bailarina,mais do que dançar,deve interpretar a música,e a sua vivência,cultura,personalidade e técnica aprendida são a base dessa interpretação,como você colocou,existe todo um contexto.Pensar sobre isso e aprofundar conhecimentos é o minimo...saber o que está fazendo.Excelente artigo!
    Bjs :)

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  2. Seu blog é muito bom!
    Não conhecia!
    Estou te linkando.
    Passarei aqui mais vezes!
    Um abraço.

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  3. Que blog rico menina, adoooro! Parabéns pelos textos, muita pesquisa e conhecimento de causa. Como estudante que sou virei mais vezes te visitar.

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